A recta dos Cabos Ávila em 1961. Foto Arnaldo Madureira em Arquivo Fotográfico da CML |
Quando ontem recebi a chamada telefónica do meu amigo Nuno Picardo no sentido de irmos hoje fotografar a ruína da fabrica dos cabos de D´Ávila não imaginava o que iria encontrar. Foi com um misto de desagrado, surpresa e deslumbramento que mergulhamos nesta ruína cheia de história, os detritos abundam por todos os lados, frutos das descargas ilegais de entulhos de toda a ordem e detritos deixados pela fabrica por ocupantes ocasionais daquele espaço... o mau cheiro é algo que nos assalta os sentidos mal se entra no edifício... mas as imagens de destruição embelezadas por algumas grafittis que são autenticas obras de arte, os "skratchs" multicolores animando as ruínas já moribundas são algo de surreal e compensam bem os dissabores d deslocação aquele local como podem ver pela reportagem fotográfica que publico de seguida.
Mas antes de tudo gostaria de iniciar este artigo com uma breve história daquela fabrica que já albergou milhares de funcionários.
Para quem não sabe esta ruina esta classificada no IGESPAR como "Património Industrial da Arquitectura Industrial Moderna (1925-1965) mas esta classificado como "sem protecção" passamos a seguir à sua ficha técnica neste instituto
Designação
Cabos de Ávila
Localização
Estrada Nacional nº117
Freguesia / Concelho / Distrito
Amadora / Lisboa
Função
Indústria de Cabos Eléctricos: edifícios industriais-administrativo-sociais
Época
Memórias Descritivas em 1952 e 58
Caracterização
Autor: Arqº Edmundo Tavares
A opção por um terreno organizado num eixo longitudinal junto a uma importante via de saída de Lisboa corresponde a um período de ampliação e afirmação económica desta fábrica de cabos eléctricos. Incorporando uma moderna produção, de alguma forma pioneira para Portugal equivalendo à grande fase da industrialização indissociável da electricidade, esta unidade fabril não se impõe nem procura uma consonância com os novos valores estéticos de uma arquitectura modernista que de algum modo propagasse e anunciasse essa nova era mental e comportamental.
O vasto recinto industrial integra corpos vários para distintas funções produtivas ou administrativas com recorrência, na sua maioria, a modelos clássicos de construção industrial. É no edifício de análises químicas que o arquitecto Edmundo Tavares assume algum arrojo linguístico quando projecta a funcional e paralelepipédica torre encimada por relógio. Construindo a imagética da Cabos d’ Ávila esta torre, importante para a realização das experiências das suspensões dos cabos, integra um universo disseminado por muitas outras indústrias, como por exemplo a fábrica Oliva, difundindo e conotando o mundo industrial com o novo regulador dos tempos e modos sociais visíveis através desta impositiva e cenográfica torre relógio.
O volume dos laboratórios aproveita o declive do local que recebe este oblongo corpo, de cobertura em terraço, marcado por fortes linhas horizontais conformadas pela modelação ritmada das janelas. A inserção de dois funcionais volumes verticais – vão de escada e torre de suspensão de cabos – marcados por uma grelha que subtilmente indicia a constante luminosidade, giza um diálogo formal equilibrado entre o peso deste maciço horizontal interceptado por estas linhas verticais, adivinhando os princípios de alguma modernidade plástica.
Deolinda Folgado/ Docomomo Ibérico
Junho 2002
Classificação
Sem protecção
A fábrica de Condutores Eléctricos Diogo d’Ávila nasceu há cerca de 88 anos, apenas com dois trabalhadores, no Bairro Alto, em Lisboa, e produziu fios para automóveis. Mais tarde passou para o Dafundo e de seguida para as últimas instalações, em Alfragide, dando nome aquela que ainda hoje é conhecida por «recta dos Cabos d’Avila».
Dos dois filhos de Diogo, Manuel ficou com a responsabilidade pela área industrial. Falecido em 1992, Manuel d’Ávila deixou marcas na história da empresa, pela frieza com que despedia, pelos baixos salários que sempre fez pagar
Dos dois filhos de Diogo, Manuel ficou com a responsabilidade pela área industrial. Falecido em 1992, Manuel d’Ávila deixou marcas na história da empresa, pela frieza com que despedia, pelos baixos salários que sempre fez pagar
Resenha Histórica:
Mesmo antes da crescente urbanização do actual centro da Amadora, subsequente, ao aparecimento do comboio, que a indústria se instalou neste território, inicialmente, através de pequenas unidades, que se localizavam, essencialmente na Amadora e na Porcalhota e posteriormente com o crescimento deste núcleo surgiu uma das indústrias de maior dimensão e importância, ligada a um grande empresário local, José dos Santos Mattos, que fundou, no Edifico da Fábrica dos Cabos Eléctricos Diogo d’Ávila. em1895, a Fábrica Santos Mattos que confeccionava cintas e espartilhos, bem como já na década de 30, do século XX, a Pereira e Brito, instalada na Av. Elias Garcia e que produzia materiais impermeáveis.
A década de 40, do século XX vê surgir nos terrenos agrícolas, da Venda Nova, um agrupamento de indústrias, que aproveitando a proximidade com a linha férrea e a entrada para Lisboa, aí se implantou.
A Fábrica de Cabos Eléctricos Diogo d’Ávila instalou-se por volta de 1952, numa outra área industrial da Amadora, Alfragide que, actualmente, ainda se encontra em formação.
A sua implantação, nesta zona, foi estratégica de modo a tirar partido das vias de comunicação que a ligavam a Lisboa.
O seu projecto arquitectónico é da autoria do arquitecto Edmundo Tavares, destacando-se de todo o edifício, de características marcadamente industriais, a torre do relógio, cuja função era suspender os cabos eléctricos, para a sua experimentação.
Cessou a sua laboração em 1997, ficando o edifício devoluto, desde então, tendo sido parcialmente demolido em 2004.
para o futuro fica-nos para já a ruína e o projecto que partilho abaixo
e por fim deixo-vos então com a nossa reportagem fotográfica, mais uma vez obrigado ao Nuno Picardo pela sua preciosa colaboração
Fabrica dos cabos de D´Ávila Outubro de 2012