terça-feira, 3 de abril de 2012

O Cine - Teatro Éden





Em 1902, o comerciante de automóveis Albert Beauvelet alugou as antigas cocheiras do Palácio. A enorme e belíssima garagem instalada num enorme hangar de ferro e vidro, e com o nome de ‘Garagem Beauvelet’, era uma obra Europeia de monta, naquela que seria a primeira representação da Peugeot em Portugal. No dia da inauguração, em 1906, além do rei D. Carlos, esteve presente o próprio Armand Peugeot, fundador da marca, num evento em que o rei "dignou-se a comprar três automóveis Peugeot"


Garage Beauvelet


Em 1904 houve um projecto de Raúl Lino para erguer sobre o Palácio Foz, um prédio que, se tivesse sido executado, seria o único daquele arquitecto e, aliás, de extrema qualidade.

Em 1909 o stand do senhor Beauvelet muda-se para os baixos do Avenida Palace, também na Praça dos Restauradores. No mesmo ano António dos Santos, o mesmo que apresentou pela primeira vez o animatógrafo em Portugal, adquire o edifício e é transformado temporáriamente (1909/1912) em casa de espectáculos e divertimentos de seu nome “Music-Hall”. Era composta por três “hangares”, sendo o principal o segundo, com palco, plateia e carrossel.

texto de blog "restos de coleção"


“Music-Hall”, inaugurada em Novembro de 1909


Aproveitando o esqueleto da Garagem, o empresário de teatro Luiz Galhardo encomendou ao cenógrafo Augusto Pina planos para a construção de um Teatro mais amplo do que o improvisado Variedades.
Esse Teatro, inaugurado no dia 25 de Setembro de 1914, com a opereta “O Burro do Sr. Alcaide de Gervásio Lobato”, é o primeiro Eden., com o nome ‘Eden Teatro’
















O primeiro projecto para a construcção de um novo Éden foi apresentado em 1929 pela empresa Éden Teatro, e foi assinado por Cassiano Branco.
Cassiano executou duas outras propostas: a primeira, datada de 1930, recupera a memória oitocentista pretendendo uma articulação com a fachada do palácio adjacente; a segunda, de 1931, é um espectacular desenho modernista organizando a fachada numa sucessão de semi-cilindros com mármores e vidros.
Desentendimentos entre Cassiano e o Conde de Sucena impediram a realização deste notável projecto. O que seria finalmente executado foi apresentado à aprovação da Câmara em 16 de Junho de 1933, assinado pelo arquitecto Carlos Dias.
No entanto, apesar de possíveis influências, a obra executada nunca foi reivindicada por Cassiano como sua.
O novo Éden Teatro foi inaugurado no dia 1 de Abril de 1937, com a peça Bocage, numa cerimónia memorável presidida pelo Chefe de Estado Marechal Carmona. Com capacidade para 1440 espectadores era uma das maiores salas da época.
Após a inauguração, o novo Éden apresentaria apenas mais duas revistas. Depois converteu-se definitivamente em sala de cinema com o mérito de ser, no coração de Lisboa, uma referência ao longo de 50 anos.
Durante a Segunda Guerra Mundial o Éden foi o cinema mais concorrido de Lisboa.
Nos anos 80 o esplendor e o brilho do Éden apagaram-se. O Éden projectou o derradeiro filme no último dia do ano de 1989. "Os Deuses Devem Estar Loucos II" fecharam as portas do Éden.
Na melhor sala de cinema dos anos 30 o tempo finalmente parou. Na noite do réveillon, são poucos aqueles que vêm dar uma vista de olhos final. Mesmo assim, a notícia espalhou-se, e houve gente com menos de 20 anos a deslocar-se ao local para tirar fotos de recordação.
Na última noite de 1989, o Éden Teatro estava entregue ainda aos cuidados das mesmas gentes que lhe conheciam todos os cantos. A lágrima ao canto do olho dos funcionários e dos frequentadores assíduos, fazia prever que aquela seria uma passagem de ano diferente.
Explorado pela distribuidora Lusomundo desde 1974, o Éden sobreviveu à sua própria época.
Em 1989 o Éden foi adquirido pelo grupo Amorim, do empresário nortenho Américo Amorim, principal exportador português de cortiças.
Salvar o Éden, preservando a componente essencialmente cultural do velho edifício, foi o compromisso assumido pelo Município Lisboeta.
Este compromisso foi assumido em reunião camarária em 1991, porém, por se tratar de uma declaração de intenções, não foi formulada qualquer calendarização para o efeito.
No final dessa reunião, para a qual fora agendada uma proposta de compra do edifício pelo Município, o presidente da Câmara de Lisboa em exercício, João Soares, disse ter-se verificado “uma manifestação clara de vontade e empenhamento da CML de salvar o Éden".
Os vereadores da CML não chegaram a votar a proposta de compra do edifício aparentemente para evitar que uma quase certa rejeição baseada na falta de capacidade financeira da Câmara.
O Éden abriu portas a Cassiano Branco durante cerca de dois meses, entre Novembro de 1990 e Janeiro de 1991. O pretexto foi uma exposição, dirigida por Henrique Cayatte (um dos maiores defensores da exclusividade cultural do Éden), que questionava o futuro de um edifício carismático em vias de destruição. A exposição foi denominada: Cassiano Branco e o Éden.
A 1 de Outubro de 1996, o IPPAR considerou o edifício como Imóvel de Interesse Público.
O grupo Amorim arregaçou as mangas e começou com o processo de recuperação e remodelação do edifício.
Os arquitectos do novo Éden foram o Francês George Pencreach, e Frederico Valsassina. Desde a compra do grupo Amorim, o Éden viveu uma discussão acesa acerca do seu futuro. Desde as promessas da autarquia para um Éden exclusivamente cultural, até à hipótese do edifício vir a ser um aglomerado de escritórios. O imóvel é hoje ocupado em parte por um hotel de luxo e uma loja do cidadão onde antes chegou a existir uma Virgin Megastore.

Localização: Praça dos Restauradores nº 17

texto de blog "Cinema aos Copos"



Aguarela do antigo Teatro Eden, nos
Restauradores em Lisboa de Vanessa Azevedo
Cine - Teatro Éden na Praça dos Restauradores em Lisboa. Fotos provavelmente dos anos 50 (á esquerda) e 60. Produzida durante a actividade do Estúdio Horácio Novais, 1930-1980. Fotos da Galeria de Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian.

Antigo Éden Teatro. 1914 - Foto do Arquivo Municipal de Lisboa
Cine - Teatro Éden na Praça dos Restauradores em Lisboa. Foto provavelmente do fim dos anos 40. Produzida durante a actividade do Estúdio Horácio Novais, 1930-1980. Foto da Galeria de Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian.















O Éden encerrou em 1989 com o filme «Os Deuses Devem Estar Loucos», parte II. Mais tarde ainda chegou a servir de cenário ao filme «Until the End of the World», de Win Wenders. Depois de muito folclore político e municipal, hoje é um hotel. Ao menos não foi abaixo..






Sem comentários:

Enviar um comentário